tem um nome demasiado comprido que pouco tem a ver com ela
usa apenas o primeiro e o último
Maria Frazão
é de Gestão, mas trabalha com aviões
nasceu numa pequena aldeia da serra e aprendeu a ler com cinco anos, nos livros da sua avó
Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco
e também Maria Teresa Horta às escondidas
sempre escreveu, e as suas palavras são simples e sentidas
saem-lhe do coração e são escritas sem pensar ou se condizem ou não condizem
não vive sem música
e sem Amor
são sempre de Amor as suas palavras
vive na margem de um rio e todos os dias amanhece nele
se ama, fá-lo intensamente
não tem livro algum editado
mas tem muitos cadernos cheios de talvez-poemas
todos os dias os escreve, porque as palavras a invadem e tem que as deitar cá para fora
é frágil, mas inquebrável
doce e inquieta!
__________

“espera”

há um murmúrio lá fora
talvez seja o ruído de uma gota de água a cair da flor 
que ela acabou de chover
ou o soluço de um pássaro
é noite
e desde Agosto que ela veste o seu vestido rosa choque
e a lingerie laranja
da Victoria’s Secret
[a sua combinação de cores feliz] 
na espera que tu a chames

de repente
numa vontade súbita
ou numa coragem que não tens

hoje
esquecidos que estão os seus beijos
e o brilho amarelo dos seus olhos
ela despe-se finalmente
fica nua de ti e olha-se de frente
e espanta-se na sua nudez

põe a mão no peito
e sente estarrecida o seu coração que bate

ignorante da tua indiferença
a julgar-se morta
o vestido no chão 
hoje
esquecidos que estão os seus beijos
e todas as outras coisas
que acrescentaram
a tua vida*

“firmamento

estás sentado no chão
e eu saboreio
os teus pensamentos
no aconchego
das tuas pernas
as minhas costas no teu peito
tu a olhar em frente
e eu a olhar as estrelas no firmamento
a ouvir o silêncio do teu amo-te
e a sentir a luta que travas
para ignorar
os meus beijos*

“sentida”

eu só queria que o meu coração
batesse certinho
como uma máquina
de movimento
perpétuo
eu só queria
que não sentisse nada
o meu coração
ou que parasse
e que assim parado eu não
desse por ele
ao meu
coração
nem à saudade que dói
nem a tão sentida
paixão

“vento”

hoje o vento começou a soprar de outro lado
na verdade talvez tenha sido ontem
mas no meu profundo amor sem mágoa
não o senti a empurrar-me para longe
são assim os ventos
e os amores
e as pessoas também
quando se esquecem dos
abraços
mas hei-de encontrar este vento
sou uma devota
e espero apenas
docemente
que este me beije imenso
que este me atire ao chão
e eu abro a janela à vida
deixo ir o vento norte
e abraço o vento suão*
__________