1. Como surgiu a Elefante Editores?
A Elefante Editores nasceu da minha vontade de me tornar editor. A minha forte relação com os livros vem desde criança. Entretanto, trabalhei numa livraria. E sou um leitor (quase) compulsivo. Os livros são parte integrante de tudo o que de mais importante fiz na minha vida.
Há anos que ambicionava ser editor. Como tal não se proporcionou numa editora existente, decidi lançar este projecto de uma micro-editora, diferente das existentes, mas apoiada por autores e leitores que dos livros, quisessem não o lucro ou outros aspectos materiais, mas o prazer da leitura, da descoberta de novos textos, de novos autores
Hoje a editora congrega à sua volta um pequeno grupo de amigos que a consideram um pouco como sua também. Une-os a todos o prazer de ler e/ou de escrever.
2. Quais as funções de uma editora?
As funções de uma editora com o perfil da Elefante Editores são, essencialmente três: Descobrir autores e textos que mereçam ser editados, independentemente das expectativas de vendas; Colocar os textos dos seus autores à disposição do maior número possível de leitores (se possível, gratuitamente, como acontece na nossa página na Internet); Estimular em todas as pessoas que nos contactem o gosto pela leitura e, em alguns casos, o prazer da escrita.
3. Quais as etapas que um livro da Elefante Editores percorre?
Das dezenas de originais que nos chegam, fazemos uma selecção depois de os textos serem lidos por 2 ou 3 amigos que colaboram com a editora. Os que merecerem a publicação de um livro, são inseridos na lista dos projectos pendentes; os que tenham qualidade mas ainda não a maturidade que um livro requer, passam para a “Gaveta dos Poetas”; os outros, são arquivados e a decisão de não publicação é comunicada ao autor.
O livro em projecto é, depois, incluído no plano editorial da editora. Mais tarde, faremos a maquetização e produção gráfica. Depois fazemos quase sempre uma sessão de lançamento e colocamos o livro à venda nas livrarias. Após o seu lançamento, é também colocado à disposição dos leitores na nossa página na Internet. Salvo erro, somos a única editora a disponibilizar, na íntegra e gratuitamente, os textos que editamos em papel.
4. Quais as estratégias editoriais utilizadas?
Tentamos, no essencial, acompanhar os dois grandes momentos de venda de livros em Portugal: as feiras do livro e a época do Natal.
Fora disso, temos três projectos importantes: O contacto regular dos nossos autores em sessões em escolas e bibliotecas e a página na Internet, que existe desde Fevereiro de 1998.
5. Editam livros de poesia. Porquê a poesia?
Tentámos posicionar a Elefante Editores com duas características que são distintivas: só editamos autores de língua portuguesa e só editamos poesia. E, como filosofia de base, procuramos descobrir autores não publicados.
Uma micro-editora como a nossa teve de focalizar a sua intervenção. Escolhemos a poesia porque estamos convencidos de que Portugal não é um país de poetas. É, antes, um país de poetas não publicados. E o nosso breve percurso deu-nos razão.
Por um lado, recebemos todas as semanas novos originais para publicação; por outro lado, sentimos que existem, de facto, leitores de poesia. O problema da poesia reside no facto de, em geral, as grandes editoras não apostarem neste género ou só apostarem escudadas nos nomes de autores consagrados.
Pela nossa parte, vamos continuar a apostar na poesia e em novos autores. Estamos a fazer um trabalho difícil. Mas, quando descobrimos um novo autor de qualidade (e isso já aconteceu por mais de uma vez), o prazer de editar é redobrado e sentimos que a nossa aposta está certa.
6. Quem procura quem…o autor ao editor ou vice-versa?
Até agora, têm sido os autores que procuram a editora. Somos tão solicitados que, de momento, não precisamos de procurar autores. O nosso problema é de outra natureza: temos já muitos projectos que gostaríamos de editar e só não fazemos porque não temos os meios indispensáveis…
7. Qual a relação entre editor/autor?
A relação entre editor e autor é uma relação de cumplicidade muito grande. Ambos estão a fazer o que mais gostam. Ambos estão no mesmo barco apenas pelo prazer da viagem ao encontro dos leitores.
Devo dizer que, até ao momento, nenhum autor da Elefante Editores recebeu dinheiro da editora. O autor recebe em “géneros”. Isto é, recebe 10% dos exemplares da tiragem como pagamento dos seus direitos de autor.
Quanto às artes gráficas. Quase todos os nossos livros têm um ilustrador. Normalmente, é um artista também desconhecido que é amigo do autor ou do editor e que deseja participar num projecto, num livro. No futuro, esta relação entre texto e imagem vai reforçar-se.
8. Como decidem que livros publicar? Que riscos correm?
O primeiro e decisivo critério de selecção dos livros a publicar é um só: se nós, editores, gostámos realmente de ler o original que nos chegou às mãos, vamos querer torná-lo acessível a outros leitores.
Ou seja, queremos que o prazer de ler se transforme no prazer de editar, de partilhar com os nossos leitores essa experiência de descoberta de poemas e de autores.
Os riscos que corremos resultam da possibilidade de o livro não vender o suficiente para pagar os custos. Só aconteceu duas vezes, mas sempre que isso acontece, damos um passo atrás.
9. Os vossos livros estão disponíveis em suporte papel e on-line. Qual o público alvo, de ambos os suportes?
O público alvo de ambos os suportes é, basicamente, o mesmo: os amantes da poesia. Quando os livros são disponibilizados on-line, significa que o nosso público alvo se alarga de forma espectacular. Assim, os amantes de poesia que falem português podem ter acesso a eles via Internet. Num instante, estamos a ser lidos em todo o mundo. É a grande vantagem da nossa página na Internet. E não será por acaso que muitos dos nossos leitores estão no Brasil.
10. Pretendem alcançar algum posicionamento significativo no mercado nacional.
Pretendemos, sobretudo, consolidar o projecto sem o desvirtuar. Nunca seremos uma das grandes editoras nacionais. Mas seremos, certamente, uma micro-editora com um projecto editorial coerente, estruturado e ambicioso.
Felizmente, o seu sucesso só dependerá dos seus leitores. Eles sabem que, quando compram os nossos livros, estão a participar num projecto cultural. Um projecto sem fins lucrativos porque todos os lucros gerados pelas vendas destinam-se, exclusivamente, a editar mais livros e a descobrir outros novos autores.
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Entrevista a J. A. Nunes Carneiro | Editor